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HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DA UMBANDA SAGRADA

ORIGEM DA UMBANDA – 15 DE NOVEMBRO DE 1.908

ZÉLIO DE MORAES E O CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS

A primeira manifestação de Umbanda, sem influência kardecista e nem de Candomblé, com registro histórico é a do "Caboclo Sete Encruzilhadas" em seu médium Zélio Fernandino de Moraes, 15 de Novembro de 1.908. Assim como a "Tenda Nossa Senhora da Piedade”  fundada por Zélio é o primeiro templo de Umbanda registrado no Brasil.

Por isso os fatos que ali aconteceram são de fundamental importância a todos nós, como fatos que marcam profundamente o nascimento da Umbanda no plano material.

 Zélio Fernandino de Moraes nasceu no dia 10 de Abril de 1892, no distrito de Neves,  município de São Gonçalo - Rio de Janeiro. Filho de Joaquim Fernandino Costa (oficial da Marinha) e Leonor de Moraes.

Em 1908, aos 17 anos, Zélio havia concluído o curso propedêutico (ensino médio) e preparava-se para ingressar na escola Naval, a exemplo de seu pai, foi quando fatos estranhos começaram a acontecer na vida dele. Em alguns momentos Zélio era visto falando manso, com a postura de um velho, em sotaque diferente de sua região, dizendo coisas aparentemente desconexas, em outros momentos parecia um felino lépido e desembaraçado, mostrando conhecer todos os mistérios da natureza. Isso logo chamou a atenção da família, preocupada com a situação mental do menino que se preparava para seguir carreira militar, os "ataques" se tornaram cada vez mais freqüentes.

Assim Zélio foi encaminhado a seu Tio, Dr. Epaminondas de Moraes, médico psiquiatra e diretor do Hospício da Vargem Grande. Após vários dias de observação, não encontrando seus sintomas em nenhuma literatura médica, sugeriu a família que o encaminhasse a um padre, para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois desconfiava que seu sobrinho estava endemoniado.  

Foi chamado um outro parente, tio de Zélio, padre católico que realizou o dito exorcismo para livra-lo da possível presença do demônio e saná-lo dos ataques. No entanto este e outros dois exorcismos, acompanhados de outros sacerdotes católicos,  não resolveram a situação e as manifestações prosseguiram.

Algum tempo depois Zélio foi tomado por uma paralisia parcial, a qual os médicos não conseguiam entender. Um belo dia Zélio levanta-se de seu leito e diz: "amanhã estarei curado" e no dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido.

Um amigo sugeriu encaminhá-lo a recém fundada Federação Kardecista de Niterói, município vizinho a São Gonçalo das Neves onde residia a Família Moraes. A Federação era então presidida pelo Sr.José de Sousa, chefe de um departamento da marinha chamado Toque Toque.

Zélio Fernandino de Moraes então foi conduzido a esta Federação no dia 15 de Novembro de 1908,  na presença do Sr.José de Sousa, estava ele em meio aos ataques reconhecidos como manifestações mediúnicas. Convidado a sentar-se à mesa logo em seguida levantou-se, contrariando as normas do culto estabelecido pela instituição, afirmou que ali faltava uma flor. Foi até o jardim apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa onde se realizava o trabalho.

Sr.José de Sousa, que possuía também a clarividência, verificou a presença de um espírito manifestado através de Zélio e passou ao dialogo a seguir:

 Sr.José: Quem é você que ocupa o corpo deste jovem?

O espírito: Eu? Eu sou apenas um caboclo brasileiro. 

Sr.José: Você se identifica como caboclo, mas vejo em você restos de vestes clericais.

O espírito: O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre, meu nome era Gabriel Malagrida, acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da inquisição por haver previsto o terremoto que destruiu Lisboa em 1755. Mas em minha última existência física Deus concedeu-me o privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.

Sr.José: E qual é seu nome?

O espírito: Se é preciso que eu tenha um nome, digam que eu sou o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, pois para mim não existirão caminhos fechados. Venho trazer a Umbanda uma religião que harmonizará as famílias e que há de perdurar até o final dos séculos.

E no desenrolar da conversa Sr.José pergunta ainda se já não existem religiões suficientes, fazendo inclusive menção ao espiritismo.

O espírito: Deus, em sua infinita bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre poderoso ou humilde, todos tornam-se iguais na morte, mas vocês homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar estas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Por que não podem nos visitar estes humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas importantes na Terra , também trazem importantes mensagens do além? Porque o não aos caboclos e pretos-velhos? Acaso não foram eles também filhos do mesmo Deus?...Amanhã, na casa onde meu aparelho mora, haverá uma mesa posta a toda e qualquer entidade que queira ou precise se manifestar, independente daquilo que haja sido em vida, todos serão ouvidos, nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas a nenhum diremos não, pois esta é à vontade do Pai.     

Sr.José: E que nome darão a esta Igreja?

O espírito: Tenda Nossa Senhora da Piedade, pois da mesma forma que Maria ampara nos braços o filho querido, também serão amparados os que se socorrerem da Umbanda.

No dia seguinte, na rua Floriano Peixoto, 30 – Neves – São Gonçalo – RJ, próximo das 20:00 horas, estavam presentes membros da federação espírita, parentes, amigos, vizinhos e uma multidão de desconhecidos e curiosos. Pontualmente as 20:00 horas o Caboclo das Sete Encruzilhadas incorporou e com as palavras abaixo iniciou seu culto:

“Vim para fundar a Umbanda no Brasil, aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos e os índios nativos de nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor , raça, credo ou posição social. A pratica da caridade no sentido do amor fraterno, será a característica principal deste culto”

Após trabalhar fazendo previsões, passe e doutrina informou que devia se retirar, pois outra entidade precisava se manifestar. Após a “subida” do Caboclo incorporou uma entidade reconhecida como “preto-velho”, saindo da mesa se dirigiu a um canto da sala onde permaneceu agachado. Sendo questionado o porquê de não ficar na mesa respondeu: “_ Nego num senta não meu sinhô, nego fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nego deve arespeitá”, após insistência ainda completou “_ Num carece preocupa não. Nego fica no toco que é lugar de nego” e assim continuou dizendo outras coisas mostrando a simplicidade, humildade e mansidão daquele que trazendo o estereótipo do preto-velho se fez identificar como Pai Antônio. Logo cativou a todos com seu jeito, ainda lhe perguntaram se ele não aceitava nenhum agrado, ao que respondeu: “_ Minha cachimba, nego qué o pito que deixou no toco. Manda moleque busca”. Todos ficaram perplexos, estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento material de trabalho dentro da Umbanda. Na semana seguinte todos trouxeram cachimbos que sobraram diante da necessidade de apenas um para Pai Antônio. Assim o cachimbo foi instituído na linha de pretos-velhos, sendo também ele a primeira entidade a pedir uma guia (colar) de trabalho.

O pai de Zélio freqüentemente era abordado por pessoas que queriam saber como ele aceitava tudo isso que vinha acontecendo em sua residência, sua resposta era sempre a mesma em tom de brincadeira respondia que preferia um filho médium ao lugar de um filho louco. Foi um trabalho árduo e incessante para o esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda. Enquanto Zélio esteve encarnado foram fundadas mais de 10.000 tendas. Após 55 anos de atividade entregou, a direção dos trabalhos da Tenda Nossa Senhora da Piedade a suas filhas Zélia e Zilméia. Mais tarde junto com sua esposa Maria Izabel de Moraes, médium ativa da tenda e aparelho do Caboclo Roxo fundou a cabana de Pai Antônio no distrito de Boca do Mato, município de Cachoeira do Macau – RJ.

Zélio Fernandino de Moraes desencarnou no dia 03 de Outubro de 1975.

Suas filhas deram continuidade ao trabalho e a “Tenda Nossa Senhora da Piedade” existe até hoje sob a direção de Zilméia de Moraes sua filha que aos 88 anos de idade se mostra ainda muito lúcida e ativa na frente dos trabalhos.

 

PALAVRAS DO CABOCLO 7 ENCRUZILHADAS

 "A Umbanda tem progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde, expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo. O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a Umbanda progrida, seja forte e coesa.

Umbanda é humildade, amor e caridade - esta a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxósse, de Ogum, de Xangô. Eu, porém, sou da falange de Oxósse, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão. Meus irmãos: sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham a baixar entre vós; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda.

Meus irmãos: meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei a casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa Umbanda. A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que safram desta Casa.

Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso. Assim o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser sua mãe, este espírito que viria traçar à humanidade os passos para obter paz, saúde e felicidade. Que o nascimento de Jesus, a humildade que Ele baixou à Terra, sirvam de exemplos, iluminando os vossos espíritos, tirando os escuros de maldade por pensamento ou práticas; que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos.

Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados, e a saúde para sempre em vossa matéria.

Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas".

FONTE: COLÉGIO DE UMBANDA SAGRADA - RUMO À EVOLUÇÃO


 

Oração a Zé Pelintra

Salve Deus Pai criador de todo o Universo.

Salve Oxalá Força Divina do Amor, exemplo vivo de abnegação e carinho.

Bendito seja o Senhor do Bonfim.

Salve Zé Pelintra, mensageiro de Luz, guia e protetor de todos aqueles que em nome de Jesus Cristo, praticam a caridade.

Dai-nos Zé Pelintra, o sentimento suave que se chama misericórdia,

Dai-nos o bom conselho,

Dai-nos apoio, instrução espiritual que necessitamos,

Para dar aos nossos inimigos,

O amor e a misericórdia, que lhe devemos pelo amor de Nosso Senhor Jesus Cristo,

Para que todos os homens sejam felizes na terra,

e possam viver sem amarguras,

sem lágrimas e sem ódios.

Tomai-nos Zé Pelintra sob vossa proteção,

desviai-nos dos espíritos atrasados e obsessores,

enviados por nossos inimigos encarnados e desencarnados e pelo poder das trevas.

Iluminai nosso espírito,

nossa alma, nossa inteligência

e nosso coração abrazando-nos na chama do vosso amor por nosso Pai Oxalá.

Valei-nos Zé Pelintra nesta necessidade,

concede-nos a graça do vosso auxílio junto ao Nosso Senhor Jesus Cristo,

em favor deste pedido ( faz-se o pedido ).

E que Deus nosso Senhor em sua infinita misericórdia,

nos cubra de bênçãos e aumente a vossa luz e vossa força,

Para que mais e mais possa espalhar sobre a terra a caridade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

oração do pai benedito de angola

ORAÇÃO A PAI BENEDITO DE ANGOLA
Salve São Benedito!

Saravá o Cruzeiro Santo das Almas!

Saravá o bondoso preto-velho de Umbanda Pai Benedito de Angola, alma bendita e abençoada, que um dia nasceu nas terras da velha mãe África.

Suplico a tua força para me desamarrar dessas amarguras que depositaram em minhas costas.

Pai Benedito de Angola, fostes um grande rezador e curandeiro; livravas os infelizes das ganas dos males físicos e espirituais, me ajude agora e sempre, por onde meus pés cansados caminhar.

Cruza a tua pemba imaculadamente branca, como são teus cabelos, pedindo o Pai Olorum, Pai Zambi, Pai Oxalá para trazer paz em minha vida e a angústia do meu coração desaparecer.

Ao fumar o teu cachimbo, tua fumaça faz desenhos no ar, carregando o medo, a calúnia e tudo o que venha fazer meu coração sofrer.

Oh! Meu Pai Benedito de Angola , com tuas ervas reze para abrir meus caminhos, espantando meus inimigos, os feitiços e as ciladas bem armadas, me livrando e livrando meu Anjo da Guarda.

Grande preto-velho da seara da Umbanda, vencedor de muitas demandas, pois nunca vi perder uma parada, me dê às vitórias que preciso.

As Santas Almas te rendem homenagens meu bom preto-velho e as almas sofredoras como eu, pede a tua luz para clarear quem vive em trevas.

Pai Benedito de Angola , a partir de agora, respiro de alívio, pois sei, que diante desta reza, o meu hoje, o meu amanhã e o meu sempre, serão de alegria e de muitas felicidades.

Saravá! Ao grande Pai Benedito de Angola

 

A GRANDE INVOCAÇÃO
Do Ponto de Luz na Mente de Deus,
flua Luz à mente dos homens!
Que a Luz desça à Terra!
Do Ponto de Amor, no coração de Deus,
flua Amor ao coração dos homens!
Que o Cristo volte à Terra.
Do Centro, onde a Vontade de Deus é conhecida,
guie o Propósito as pequenas vontades dos homens!
O Propósito que os Mestres conhecem e servem.
Do Centro a que chamamos raça dos homens,
cumpra-se o Plano de Amor e Luz
e mure-se a porta onde mora o mal!
Que a Luz, o Amor e o Poder
Restabeleçam o Plano Divino na Terra!
"A Invocação ou Oração acima não pertence a nenhuma pessoa ou grupo, mas à toda a Humanidade. A beleza e a
força desta Invocação repousam em sua simplicidade e em sua expressão de certas verdades centrais que todos os
homens, inata e normalmente, aceitam: a verdade da existência de uma Inteligência básica a Quem nós vagamente
damos o nome de Deus; a verdade que, por trás de toda aparência exterior, o poder motivador do universo é o Amor; a
verdade que uma grande Individualidade veio à Terra, chamada pelos cristãos, o Cristo, e encarnou aquele amor, de
modo que o pudéssemos compreender; a verdade que tanto o amor como a inteligência são efeitos do que é chamada
a Vontade de Deus; e, finalmente, a verdade auto-evidente que, somente através da própria humanidade, pode o Plano
Divino realizar-se."
Alice A. Bailey




SINCRETISMO

Do livro de Pierre Verge: ORIXÁS

Tradução Maria Aparecida da Nóbrega

"Esses mesmos santos, que haviam protegido os interesses dos negreiros e a vida de uma parte dos

negros transportada, tiveram o bom senso de realizar em seguida um exame de consciência, do qual

resultou uma troca de posição: passaram a proteger os escravos, ajudando-os a mistificar os seus

senhores...

Talvez tivessem partilhado os remorsos tardios do Padre Bartolomeu de Lãs Casas, o qual, levado

pela piedosa intenção de preservar as vidas dos índios caraíbas, tentativa, aliás, sem resultados,

desempenhou, no século XVI, o papel de instigador do tráfico transatlântico de negros. Aliás, esse

tráfico África, Europa já existia há bastante tempo. Espanha e Portugal abasteciam-se, ainda que

modestamente, de escravos mouros e negros barbarescos do norte da África, ao longo da costa do

Atlântico. Os países barbarescos do norte da África faziam precisamente mesmo, capturando os

infiéis, neste caso os cristãos, e colocando esses cães a remar nos bancos das suas galeras. Em

contrapartida, os porões da galera estavam repletos de mouros.

Mas, voltando aos santos do paraíso católico, é certo que eles ajudaram os escravos a lograr e a

despistar os seus senhores sobre a natureza das danças que estavam autorizados a realizar, aos

domingos, quando se reagrupavam em batuques por nações de origem. Em 1758, o Conde dos Arcos,

sétimo vice-rei do Brasil, mostrava-se partidário de distrações dessa natureza, não por espírito

filantrópico, mas por julgar útil que os escravos guardassem a lembrança de suas origens e não

esquecessem os sentimentos de aversão recíproca que os levaram a se guerrear em terras da África.

Assim divididos, eles não se arriscariam a um levante em conjunto, como iriam faze-lo cinqüenta

anos mais tarde contra os seus senhores. Estes últimos, vendo os seus escravos dançarem de acordo

com os seus hábitos e cantarem nas suas próprias línguas, julgavam não haver ali senão divertimentos

de negros nostálgicos. Na realidade, não desconfiavam que o que eles cantavam, no decorrer de tais

reuniões, eram preces e louvações a seus orixás, a seus vodun, a seus inkissi. Quando precisam

justificar o sentido dos seus cantos, os escravos declaravam que louvavam, nas suas línguas, os santos

do paraíso. Na Verdade, o que eles pediam era ajuda e proteção aos seus próprios deuses.

Não se pode afirmar que já se tratava de sincretismo entre os deuses da África, por um lado, e os

santos católicos, por outro, pois, no século XVIII, as características das divindades africanas eram

ainda desconhecidas dos senhores e do clero português, enquanto os escravos não podiam também

conhecer os detalhes da vida dos santos.

As primeiras menções às religiões africanas no Brasil são de 160, por ocasião das pesquisas do Santo

Oficio da Inquisição, quando Sebastião Barreto denunciava o costume que tinham os negros, na

Bahia, de matar animais, quando de luto... Para lavar-se no sangue, dizendo que a alma, então,

deixava o corpo para subir ao céu. Por volta da Costa da Mina que fazia bailes às escondidas, com

uma preta mestra e com altar de ídolos, adorando bodes vivos, untando seus corpos com diversos

óleos, sangue de galo e dando a comer bolos de milho depois de diversas bênçãos supersticiosas...

É difícil precisar o momento exato em que esse sincretismo se estabeleceu. Parece ter-se baseado, de

maneira geral, sobre detalhes das estampas religiosas que poderiam lembrar certas características dos

deuses africanos.

Pode parecer estranho, à primeira vista, que Xangô, deus do trovão, violento e viril tenha sido

comparado a São Jerônimo, representado por um ancião calvo e inclinado sobre velhos livros, mas

que é freqüentemente acompanhado, em suas imagens, por um leão docilmente deitado a seus pés. E

como o leão é um dos símbolos de realeza entre os iorubás, são Jerônimo foi comparado a Xangô, o

terceiro soberano dessa nação.

A aproximação entre Obaluaê e São Lázaro é mais evidente, pois o primeiro é o deus da varíola e o

corpo do segundo é representado coberto de feridas e abscessos.

Iemanjá, mãe de numerosos outros orixás, foi sincretizada com Nossa Senhora da Conceição, e Nanã

Buruku, a mais idosa das divindades das águas, foi comparada a Sant´Ana, mãe da Virgem Maria.

Oiá-Iansã, primeira mulher de Xangô, ligada às tempestades e aos relâmpagos, foi identificada com

Santa Bárbara. Segundo a lenda, o pai dessa santa sacrificou-a devido à sua conversão ao

cristianismo, sendo ele próprio, logo em seguida, atingido por um raio e reduzir a cinzas.

A relação entre o Senhor do Bonfim e Oxalá, divindade da criação, é mais dificilmente explicável, a

não ser pelo imenso respeito e amor que ambos inspiram.

Na Bahia, São Jorge é identificado com Oxossi, deus dos caçadores, mas, no Rio de Janeiro, é ligado

a ogum, deus da guerra, o eu é compreensível em relação aos dois orixás, pois São Jorge é

apresentado nas gravuras como um valente cavaleiro, vestido em brilhante armadura, montado sobre

um cavalo ricamente ajaezado em ferro, que bate no chão com as patas e caracola. Armado com uma

lança, São Jorge da Capadócia Mata um dragão enfurecido, caça predileta do deus dos caçadores.

Para maior satisfação do deus dos guerreiros, no Rio de Janeiro, desde os tempos do Império, segundo

Arthur Ramos, São Jorge aparecia nas procissões montado num cavalo branco, com honras de coronel

e recebendo as continências da tropa à sua passagem. Na Bahia, porém, é com Santo Antônio que

Ogum vai ser sincretizado.

Esta aproximação entre Ogum, deus da guerra, e Santo Antônio parece surpreendente, pois o santo é

geralmente representado com uma aparência suave e atraente, trazendo uma flor-de-lis na mão e

carregando, em seus braços, o Menino Jesus. Foi, no entanto, cognominado o martelador dos

heréticos por causa da extrema violência verbal que usava para fustigar os maus pensadores e os

monges sacrílegos. A chave do mistério dessa estranha associação nos é dada nas recordações das

viagens feitas, em 1839, por Daniel P. Kidder: Uma frota o escrevia, comandado por luteranos,

deixou a Franças em 1595, com a intenção de conquistar a Bahia. No caminho, os protestantes

atacaram Argoim, uma ilhota ao largo da costa da África, pertencente aos portugueses, e, depois de se

atirarem ao saque e à destruição, levaram entre outras coisas uma imagem de Santo Antônio. Logo

que prosseguiram viagem, foram atacados por uma forte tempestade, o que causou a perda de vários

navios. Os que escaparam à tormenta foram acometidos pela peste, e durante essa provação, por ódio

ao catolicismo, jogaram a imagem no mar, após terem-na mutilado com golpes de facão. O navio que

transportava chegou a um porto de Sergipe, onde todos os que estavam a bordo foram presos.

Mandados para a Bahia, a primeira coisa que viram na praia foi à imagem que tanto haviam

maltratado... Os frades franciscanos levaram-na, em solene procissão, para o seu convento... Mas os

frades, malsatisfeitos com a aparência velha e feia da imagem, substituíram-na por outra imagem,

mais pomposa e elegante e que foi batizada com o mesmo, tendo, em princípio, herdado sua

virtudes... Santo Antônio foi alistado, como soldado, no Forte da Barra, que tem o seu nome. Como

soldado, recebeu regularmente o soldo até que foi promovido ao posto de capitão, em 16 de julho de

1705, pelo governador Rodrigo da Costa. A Cópia da ordem, dada por aquele governador, está

publicada no livro de Kidder e determina que o procurador do convento está autorizado a receber o

montante deste soldo de capitão. Durante a última guerra mundial, Santo Antônio foi promovido a

major. Os franciscanos da Bahia conservam o uniforme de gala oferecido por uma rica devota. Debret

relata as horárias militares concedidas a santo Antônio nas diferentes províncias do Brasil. Fala,

talvez com exagero, do seu título de marechal dos exércitos do rei João VI e de comendador da Orem

de Cristo na Bahia, de coronel e grã-cruz da Ordem de cristo no Rio de Janeiro, ou mesmo, mais

modestamente, de simples cavalheiro de cristo no Rio Grande.

Ao que parece, certos membros do clero católico julgaram conveniente favorecer esse sincretismo,

como o Padre Boucher havia sugerido, na própria África, ao descrever a estátua da Iangbá, mulher de

Oxalá, nos seguintes termos: esta deusa que muito se parece com a Santa Virgem, pois tanto uma

como a outra salvaram os homens.

Os santos católicos, ao se aproximarem dos deuses africanos, tornavam-se mais compreensíveis e

familiares aos recém-convertidos. É difícil saber se essa tentativa contribuiu efetivamente para

converter os africanos, ou se ela os encorajou na utilização dos santos para dissimular as sua

verdadeiras crenças. É o que Nina Rodrigues indagava em 1890, numa época em que o sincretismo

entre orixás e santos católicos ainda estava em formação e onde a equivalência entre eles era flutuante

e variável de acordo com os terreiros. Existia ainda, na época, a tendência de se identificar Xangô

com Santa Bárbara, como se vê até hoje em Cuba, apesar da diferença de sexo, pois o argumento das

relações com o trovão parecia dominar. Nina Rodrigues escrevia, então: Aqui na Bahia, como em

todas as missões de catequese dos negros africanos, seja ele católico, protestante ou maometano,

longe de o negro converter-se ao catolicismo, protestantismo ou ao islamismo, acontece, ao contrário

influenciá-los com seu fetichismo e adapta-los ao animismo do negro.

Basta, para compreender o fenômeno, assistir aos serviços divinos nos templos protestantes do

Harlem, em Nova York, ou mesmo na África, aos cultos de numerosas seitas mais ou menos

sincréticas, como a dos querubins e Serafim, onde os fiéis são visitados e possuídos, violentamente

algumas vezes, pelo Espírito Santo.

Nos candomblés, as duas religiões permanecem separadas, e Nina Rodrigues constatava que, em fins

do último século, a conversão religiosa não fez mais que justapor as exterioridades muito mal

compreendidas do culto católico às suas crenças e práticas fetichistas que em nada se modificaram.

Concebem os seus santos ou orixás e os santos católicos como de categoria igual, embora

perfeitamente distintos.

Os africanos escravizados se declaravam e aparentavam convertidos ao catolicismo; as práticas

fetichistas puderam manter-se entre eles até hoje quase tão estremes de mescla como na África.

Depois, as viagens constantes para a África com navegação e relações comerciais diretas...

Facilitaram a reimportação de crenças e práticas, porventura um momento esquecido ou adulterado.

Com o passar do tempo, com a participação de descendentes de africanos e de mulatos Ada vez mais

numerosa, educada num igual respeito pelas duas religiões, tornaram-se eles tão sinceramente

católicos quando vão à igreja, como ligados às tradições africanas, quando participam, zelosamente,

das cerimônias de candomblé".


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PRETO VELHO

VOVO BENEDITO DE ANGOLA

xama 

GEPX - Grupo de Estudos e Práticas Xamânicas (em desenvolvimento)

    

  

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escavos

UMBANDA A PROSINTESE

Uma Obra de F.Rivas Neto, mais conhecido por YAMUNISIDDHA ARHAPIAGHA - Mestre-Raiz da Escola de Síntese, onde trás paradigmas dos Arcanos Maiores e Menores conhecidos como a heterodoxia na umbanda. Rivas discorre sobre a magia etérica-física através de conceitos e métodos oraculares das Antigas Escolas de Mistérios e/ou dos Grandes Colégios Divinos da Tradição Hermética. Uma Obra muito comentada nos bastidores da nossa doutrina. Certamente um bom livro. Vá a página DOWNLOAD E LINKS onde você poderá fazer o download ou apenas fazer uma leitura scaning.